Carências

CEU

Vives num mundo no qual a carência é constante, gerando desequilíbrio e promovendo violência.

Há carência afetiva, porque aqueles que desejam ser amados não se resolvem por amar com sentimento fraternal.

Permanece a carência de emprego, porque escasseia o número dos que desejam trabalhar com dignidade recebendo um salário justo.

Predomina a carência de saúde, em razão dos exageros alimentares, dos vícios e da rebeldia mental.

Espalha-se a carência econômica como consequência da falta de solidariedade de todos, no relacionamento de uns para com os outros.

Aumenta a carência de segurança graças ao desrespeito à liberdade do próximo, como efeito da libertinagem que se generaliza.

Avoluma-se a carência de alimentos em várias áreas, enquanto noutras o desperdício assustador.

Quase todas as pessoas se apresentam em carência, afirmando nada receberem, sem embargo, possuindo inúmeros recursos que são escassos noutras, mas que se recusam oferecer-lhes.

O problema da carência é resultado do desamor ao próximo, à vida, ao dever.

A ociosidade de uns provoca a carência de outros.

O egoísmo de alguns responde pela carência de muitos.

A ambição de diversos gera a carência de multidões.

Faz-se necessário igualmente, considerar-se que a Terra ainda não é o paraíso, onde a abastança, a plenitude e a paz estabeleçam um oásis de encantamento.

Escola de aprimoramento das almas, propõe um currículo rigoroso para aprendizagem valiosa.

Ninguém, todavia, lhe desrespeita impunemente os códigos para a própria formação moral e evolutiva.

Justo, portanto, que o estágio nos seus cursos se faça mediante esforço e obediência rigorosos.

Cada dia possui vinte e quatro horas, na sucessão dos anos…

Reserva qualquer espaço de tempo para diminuíres a carência vigente.

Não alegues cansaço, nem te apresentes desanimado.

O que tens, escasseia noutras pessoas.

Conforme gostarias de receber um pouco daquilo que eles possuem em quantidade, começa por seres tu, aquele que oferece primeiro.

Aprende a dar, a fim de que outras criaturas comecem a permutar.

A experiência da bondade gera o hábito da solidariedade, que desenvolve os sentimentos nobres dormindo latentes em todos os indivíduos.

Observa a sabedoria da natureza, que reflete a misericórdia do Pai e, desse modo, inspira, fala e atua ao lado de outros contra a carência, inaugurando o período da fartura que só o amor sabe proporcionar.

[Joanna de Ângelis]

Decisão e vontade

Incerteza parece coisa de pouca monta, mas é assunto de importância fundamental no caminho de cada um.

As criaturas entram na instabilidade moral, habituam-se a ela, e passam ao domínio das forças negativas sem perceber.

Dizem-se confiantes pela manhã e acabam indecisas à noite.

Freqüentemente rogam em prece:

– Senhor! Eis-me diante de tua vontade!…

Mostra-me o que devo fazer!…

E quando o Senhor lhes revela, através das circunstâncias, o quadro de serviço a expressar-se, conforme as necessidades a que se ajustam, exclamam em desconsolo:

– Quem sou eu para realizar semelhante tarefa?

Não tenho forças.

Ai de mim que sou inútil!…

Sabem que é preciso servir para se renovarem, mas paradoxalmente esperam renovar-se sem servir.

Dispõem de verbo fácil e muitas vezes se proclamam inabilitadas para falar auxiliando a alguém nas construções do Espírito.

Possuem dedos ágeis, quais filtros inteligentes engastados nas mãos; entretanto, costumam asseverar-se inseguras na execução das boas obras.

Ouvem preleções edificantes ou mergulham-se na assimilação de livros nobres, prometendo heroísmo para o dia seguinte, mas, passada a emoção, volvem à estaca zero, à maneira de viajante que desiste de avançar nos primeiros passos de qualquer jornada.

Louvam na rua o equilíbrio e a serenidade e, às vezes, dentro de casa, disputam campeonatos de irritação.

O dever jaz à frente, a oportunidade de elevação surge brilhando, os recursos enfileiram-se para o êxito e realizações chamam urgentes, mas preferem a fuga da obrigação sob o pretexto de que é preciso cautela para evitar o mal, quando o bem francamente lhes bate à porta.

Trabalho, ação, aprendizado, melhoria!…

Não te ponhas à espera deles sob a imaginária incapacidade de procurá-los, à vista de imperfeições e defeitos que te marcaram ontem.

Realização pede apoio da fé.

Mãos à obra.

Tudo o que serve para corrigir, elevar, educar e construir, nasce primeiramente no esforço da vontade unida à decisão.

[Francisco Cândido Xavier, Emmanuel. Livro: Rumo Certo]